O H.E.R.A é um “manifesto” ao que acreditamos ser um novo paradigma de vivência urbana, reclama em si os pressupostos que defendemos, desenvolvemos e incorporamos nos nossos estudos e desenvolvimentos arquitectónicos. Interessa-nos entender a evolução das cidades, a necessária expansão e crescimento das mesmas, as zonas de conflito entre a fronteira rural e urbana, as fraturas resultantes de uma ocupação não pensada do solo ou, por sua vez, a sua não ocupação. O edifício de habitação colectiva, H.E.R.A, define-se como um corpo simbiótico que absorve os estímulos da vivência em contexto rural numa circunstância urbana.
Localizado numa zona de transição entre a zona urbana da cidade e a montanha da Penha, onde a cidade “absorve”e apropria-se do “campo”, o conjunto apreende o modo de vida citadino em simultaneidade com a pacificidade da natureza. Os elementos que “desenham” a fachada refletem sensibilidade no modo como o H.E.R.A comunica com a sua envolvente, a expressividade da textura do betão, a nobreza da madeira em forma de ripado e o elemento verde, o qual vai muito mais além do que meras “floreiras”, meros adornos; são parte integrante do desenho do alçado, definem a cor, a temporalidade, emanam os cheiros e conferem personalidade ao construído.
Mais que “apartamentos”, desenhamos espaços habitacionais, valorizamos a vivência e experiências do dia-a-dia, pensamos nas emoções e nos modos de habitar de cada um. Todos somos diferentes, com ritmos próprios, com dinâmicas distintas, e isto reflete-se no espaço interior. A espacialidade surge então como um corpo mutável, adaptável e transformável, permitindo uma constante alteração e personificação do espaço. Resulta assim um processo comutativo entre a necessidade e a vontade, que busca de forma inequívoca a reclamação de uma contemporaneidade e uma (r)evolução da forma de habitar.